Há muitos anos atrás, tantos que ninguém sabe ao certo quantos, aconteceram muitos milagres de que ainda hoje se fala. Tudo se passou na zona raiana de Portugal e Galiza, perto do planalto hoje conhecido como o de Laboreiro.
Um belo dia, estava um pastor a passear o seu rebanho na distante e isolada veiga de Numão, muito procurada pelas suas boas pastagens, quando reparou numa luz a brilhar na concavidade de um rochedo altíssimo. Quando se aproximou, viu uma estátua de Nossa Senhora Mãe de Cristo e foi logo a correr contar a nova à população de Castro Laboreiro. Os moradores, depois de verificarem a genuína natureza daquela imagem que não parava de brilhar, resolveram levá-la para o centro da vila, onde foi muito adorada.
No dia seguinte, a estátua desaparecera.
Um habitante logo veio contar que vira uma águia gigante a pegar na imagem milagrosa com as suas garras e levá-la em direção ao Numão. Ninguém queria acreditar, mas quando se dirigiram à veiga puderam verificar que ela estava de novo pousada na mesma rocha como se fosse a pérola de uma concha.
Tornou-se então tradição levar a imagem duas a três vezes por ano para o centro da vila para que outras tantas vezes desapareça e reapareça no seu domicílio original. Os da vila, de tão repetidas fugas, entenderam que a Senhora gostava daquela veiga distante e isolada e, por isso, resolveram lá construir a muito custo uma ermida que ainda hoje existe e pode ser visitada. Quem lá for, pode ver a belíssima imagem e, com sorte, ver uma das muitas águias que parecem proteger aquele milagroso lugar.
Glossário
Ermida: pequeno santuário ou igreja;
Raia (zona raiana): fronteira (zona fronteiriça);
Veiga: vale fértil.

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